segunda-feira, 26 de março de 2012



fogão de lenha

de vez em quando surge
um passado com cheiro amadeirado
de fogão de lenha
 ardendo nostálgica dor.

apinhado  de  picumã
 as telhas,as paredes 
e o espelho da infância,
 refletindo a cozinha .



o fogo aceso
daquelas manhãs,
o estrépito  da lenha verde
 queimando preguiçosa...

 pobres telhas!  
impregnadas
evocam  saudoso
e longínquo chamado.

e a memória, esculpida
no cheiro que se  amadeira, 
a saudade  trabalhadeira
- rendida

quinta-feira, 22 de março de 2012


Bom dia água

Brota de ti
música, 
em mil doremis ,
 és fá,  és sol, lá ,
 em si-nfonia de rio
em  jazz de mar
blues de lago serenos
boleros de chuva
e dobrados de cachoeiras! 

Tua falta é  lâmina,
 ceifa  braços vegetais
que se erguem.
Tua falta é seca
e se deita em leitos
 vazios de ti.

E, o bicho homem
não para de encharcar-te
com o lixo da morte
e os dejetos do descaso

Não sabem que o teu  dia é todo dia 


     Outonos de mim

O cabelo esvoaçando de branco
e de idéias brancas,  azuis  talvez,
Poesia que vem na medida do tempo,
E na  inconsistência das ondas
Tangendo a liquidez da lágrima
e das marés ...

Seduz ao som de blues e silêncios.
Silêncios,  nunca parem de  cair  folhas
 Folhas da  árvore,
Árvore de minh’ alma.
 Alma que  esvoaça em versos
Versos atapetando outonos
Outonos de mim

domingo, 18 de março de 2012


Aqui
 jazz
 mim

flor
fica
aqui  

azul
 vira
miosótis

       blue
       de
       nós

sopra
doce
ninar

de: Nina Rizzi e  Dulce  Cavalcante  

quinta-feira, 8 de março de 2012


Essa coisa mulher
 Tem  muita coisa
de divina, de diabólica ,de angelical,de ninfa .
Mulher qualquer coisa, sem asas, sem véus, 
sem bandeiras .
Mulher  tem uma coisa bendita ; pela própria natureza 
nela se eternizam, os povos,
Equilibra   mundos,
o universo inteiro.
             Harmoniza-se. enfrenta, confronta.
Se preciso
recolhe ou usa armas buriladas em suas mãos.
Tem muita coisa de diva, de deusa ,de bruxa
e muito de fada.
Usa uma varinha de condão não importa se
de ouro ou de cobre, 
ou que seja  uma haste e presa  a uma flor.
Mulher traz no porte uma coisa
de rainha.
 Traz  a tenacidade da abelha operária,
tem muito de rica,  muito  de plebe.
Sendo rude, sendo politizada: sabe ser tudo.Simples, soberba e sublime.
Mulher não é coisa abstrata como os anjos
 e não é coisa concreta como as pedras
nem é etérea;
                                                 como nuvens cor-de-rosa
 só quando sonha, se desvirtua ou se  entrega.
Não é coisa estática como a montanha
Tem a mobilidade das chuvas, o assanhamento das tempestades.
                                  e a  calmaria da brisa, nas mangãs de domingo.
Há muito, tem essa coisa emaranhada de raiz,
 de ramo: dá folhas,  dá flores, dá frutos e
dará sombra ,enquanto o mundo for mundo.
Às vezes tem coisa de fera, aí, tenha medo,
se encurralada mostra coisa de dente,
 de garra, de astúcia, de malícia, de megera.
mulher
precisa de batom,
          precisa  de brilho, de néon,
E muito mais de uma coisa chamada RESPEITO


             ...Imaginemos
            
            Andorinhas em bando, distraídas,
            A fazerem ninhos em nossos olhos.
            O canto do bem- me- vê  do bem-te-vi,
            beija-flores, beijando flores,
            Bebendo o néctar, triplicando o pólen,
                        Fecundando a vida!
            
            Imaginemos
            Tudo em seu lugar, embevecidos   
            Borboletas, pirilampos,
            E,  joaninha, louva-deus e esperança,
            voltando cada vez mais, aos campos,
            Salvos da fuligem e livres do lixo urbano,
             Exaltando a terra,
             Ensaiando a vida!
             
               Imaginemos
               A imensidão de águas límpidas
                Dos rios, das  fontes, dos lagos
              De repente despoluídas.
               O húmus fertilizante
               invadindo as margens,.
              Peixes em eterna piracema
               E os frutos  mais  doce em cada estação
              Saboreados com sofreguidão e sem culpa
              Recriando a  vida!

domingo, 4 de março de 2012


A taça transborda...

Quem é aquela mulher
Que transita em corredores de vidro,
Uma taça de vinho entre os dedos,               
Tingindo de grená as transparências
 Onde suas essências se fundem?

Aérea,etérea pluma
Seus passos, alheios a tudo,
Movem-se com calma, como quem pensa,
E a mente pensa frenética, como quem dança,
Tritura em pedacinhos os pensamentos.
                                    

Mulher, apenas uma mancha
                                    Na vidraça embaçada,
Um olhar inviolável
Que a torna invisível,
E a lágrima que drenava interna mágoa
Fez-se leve,
Pairando em branca nuvem,
E fez-se nela seu caminho transitório.                                                  
               

                      ... e a taça de vinho deixa-se transbordar naquela
                             festa, naquele momento, naquele silêncio. 


sábado, 3 de março de 2012


           Andarilho mil vezes                                                                      

Andei mil milhas.
Ah! Quantas vezes 
mil milhas andei
Por estradas sem fim,
Nascendo, em auroras
E inesquecíveis arrebóis...
Varando o sol, renasci,
Varando o dia, cresci,
Com a noite me deitei,
E nas madrugadas entre
Estrelas pontilhadas, sonhei.
Vivi a lua, enluarada, amei.