domingo, 16 de novembro de 2014


é ilegal falar de escuro
numa  manhã de domingo, vou falar 
então em:  

por do sol

...sou este por do sol
que se curva
depois da jornada diária.
Feliz,  não importa a ele
a chuva, a nevoa, a ventania.

um dia,quis ficar por lá.
não retornarei,
para cumprir o tempo
 de claridade que havia em mim,
se extingue o meu nascer de sol
sem alarde...


terça-feira, 30 de setembro de 2014





 Não haverá nenhum beijo
 a selar dois desejos
não haverá dois gestos plenos
Não haverá mãos se unindo
a  tecer   fios da mesma trama
e construir a mesma ternura.
Não haverá alvo comum
atingido pela   mesma seta...
Nenhum olhar convergirá
 para o mesmo céu,
 mirando a mesma nuvem.
 Haverá dois mundos a separar
 as nossas  pegadas plurais
 em profundos desencontros.
Como estava escrito
Ou como a vida escreve
Sem se perceber.



 Dulce Cavalcante

domingo, 21 de setembro de 2014

Primavera a estação perdida da caatinga

A caatinga se prepara
com sua melhor roupa
 para receber a primavera.
 A grande cor da caatinga
 Se vê  no cinza sem retoques
Não como a cor  vista na  restinga
de Marabáia cheia de vida  e não me toques.
 Minha primavera não é afoita,
 e com suas  duas flores que se abrem
 à  margem  do  rio que agoniza...  
E o vento que açoita o alóe vera e água-pés  
que floresce no que foi paisagem.
 A rama  vive a dor da  secura
e ainda busca a sobrevivência
teima nas pobres estruturas
tirar da rala  chuva a cor da subexistência
que se curva, não rendida,
 mas brandamente  muda.
E, ainda teima, ainda ousa  e ainda retira
a cor do setembro  nos cajueiros em flor
duma primavera sonhada










domingo, 31 de agosto de 2014

Desequilíbrio da marcha

Olhando  teus pés
 vi que as  noite e os dias
trabalharam no silencioso
 arcabouço das horas.
Traçaram  no vagar 
a decadente caminhada
derradeira e incansável.
O que te fizeram  os  pés
para carregar este peso
e desaminhar  no equilíbrio ?

O que te levaram  os  pés
enveredar-se numa marcha
cambiante  e irreversível,
ignorando o vértice dominante?
Por certo as varizes
fizeram  a sua parte,
trocando a juventude
em  cicratizes sem regresso.
O vigor destemperou-se
em  quedas  necessárias
para continuares vivendo.

Não deixe  a cabeça ficar  vendo navios
 através de despetalado resultado
do tempo versus- vida
 ou será vida versus -morte a  se aviar.
Vê-se a flor que murcha ,
E despetalada  cai,
Pelas calçadas                               Dulce Cavalcante



sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

a chuva e a lágrima

A chuva no telhado


Era noite, o sono              
as vezes tão escasso,                                     
estava chegando
 a pontas dos pés.
Rapidamente   o cheiro
 de terra molhada
 sobe  a varanda
vai se  espalhando
e muito a vontade  me  acolhe
 em seu seio telúrico
 de memorável aconchego.
De repente a chuva
 tímida,  cai  no telhado
sem  pedir licença
 vai  molhando toda
 a secura  de abril...
Daí  eu choro e na lágrima
o apelo incansável
da irmã, do  irmão
 e dos  braços vegetais erguidos 
transidos  de dor e sequidão.  
De repente
a chuva fugaz se vai,
os  lamentos ficam 
Ficam e disseminam
 o testemunho mudo
da frágil despedida
na lágrima que cai.


terça-feira, 17 de setembro de 2013

A primavera em um setembro que lembro

Ah!  primavera de setembro.
Eu lembro a flor amarela
quando surge efêmera e bela
aqui e acolá derramando cor
na vestidura gris da caatinga.

Ela invade a dor cinza do asfalto,
nesta estrada inalterada ,
que serpenteia pelo chão,
coberta de piche e solidão.

Assim, a preseguir um sonho 
que nem lembro.Nem mesmo
é a mesma flor amarela
ornando a primavera 
do mesmo setembro,
nem estou na mesma janela!


terça-feira, 16 de julho de 2013

   Com Amor


...Eu me permiti
com muito amor
ser mel e ser flor
no azul do teu céu
e viver mil noites
enluaradas
e sentir mil manhãs
ensolaradas
na pele de  desejos
madrugados
que não dei  conta... 
E na boca ainda
molhada
de beijos tantos

que nem contei...